O homoerotismo do artista Hudinilson Jr. na Pinacoteca de São Paulo

Entre os dias 14 de março e 17 de agosto de 2020, a Pinacoteca de São Paulo apresenta a exposição "Hudinilson Jr.: Explícito", que reúne 77 obras do artista, falecido em 2013, aos 56 anos. Ele é famoso por suas colagens homoeróticas e por sua série dos anos 80 intitulada "Exercício de me ver", que são fotocópias de partes do seu corpo simulando sexo com a máquina de xerox. Confira!

Imagem: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

A exposição reúne fotografias, xilogravuras, desenhos, documentos, cadernos, objetos e trabalhos em xerografia. Entre os últimos consta uma de suas séries mais conhecidas, "Exercício de me ver" (1980-1984), que marca seu pioneirismo, no início dos anos 1980, no uso da xerox como suporte artístico no Brasil. Entre 1975 e 1981, Hudinilson Urbano Jr. (1957-2013) coordenou o Centro de Xerografia na Pinacoteca, no qual foi responsável por fomentar uma produção prática, teórica e editorial nesse suporte. Realizou ainda, na instituição, quatro exposições individuais e curou duas coletivas com trabalhos produzidos a partir do mesmo suporte.

Imagem: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

Durante o período de pesquisas e dispondo frequentemente do próprio corpo nu, utilizou uma fotocopiadora da instituição para realizar ações que unem performance e registro e que acabaram tornando-se marcos importantes da arte produzida no período. Em "Detalhe do detalhe" (1981-1983), espécie de desdobramento de "Exercício de me ver", Hudinilson Jr. ampliou pequenos pedaços da primeira série até sua quase total abstração, escapando assim de uma eventual censura devida à aspiração erótica e pornográfica da obra. Dessa necessidade constante de se expor, de se tornar explícito, surge também a obra "Intra Narciso" (1990), em referência à personagem da mitologia grega que se apaixona pela própria imagem. A figura, adotada pelo artista como codinome ao longo da vida, aparece em boa parte de suas obras.

Imagem: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

Tomando ainda como base a autorrepresentação, o homoerotismo e o gesto contracultural, interessou-se por outros suportes como o estêncil (aprendizado adquirido através do artista Alex Vallauri), a arte postal, a performance, o grafite e as intervenções urbanas. Para as últimas, costumava sair à noite pelas ruas de São Paulo e se juntou à Mario Ramiro (1957) e Rafael França (1957 – 1991) para montar o coletivo 3NÓS3, celebrado por suas ações transgressoras no espaço público entre 1979 e 1982.

Imagem: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

Segundo a curadora, é essa vontade pública que parece definir a trajetória do paulistano. “Ainda que íntima e particular, sempre calcada nas experiências pessoais, sua obra se prestou a testar os efeitos de se estar exposto, sujeito às relações e disputas de um repertório comum”, ela reflete. O museu e a cidade, portanto, foram duas instâncias da vida pública com as quais o artista se engajou. Esse interesse consta nos projetos que desenvolveu no decorrer de mais de três décadas de carreira.

Imagem: Divulgação/Pinacoteca de São Paulo

Por fim, o título da exposição faz referência à obra "Explicit" (anos 1980), que Hudinilson grafitou com estêncil e tinta spray sobre os muros de São Paulo. O termo é replicado na forma de uma pequena obra em papel que faz parte da mostra e que pode oferecer algumas chaves de entendimento sobre a conduta na vida e na arte de um artista cujo caminho se construiu à revelia do conservadorismo e do preconceito.


SERVIÇO

Hudinilson Jr.: Explícito
Curadoria de Ana Maria Maia
Assistência de curadoria de Thierry Freitas
Abertura: 14 de março de 2020, sábado, às 11h
Visitação: 14 de março a 17 de agosto de 2020
De quarta a segunda, das 10h às 18h.
Pinacoteca de São Paulo:
Edifício Pina Estação
Largo General Osório, 66 – Luz – 2º andar
Gratuita todos os dias.
Classificação indicativa: 14 anos.

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