A Itália e o Mundo de Pier Paolo Pasolini

Nascido em 1922 e brutalmente assassinado em 1975 após sair com um garoto de programa, Pasolini era um homossexual assumido e é até hoje um dos mais importantes e polêmicos cineastas italianos. Seus filmes escandalizavam (e ainda hoje escandalizam) por conter cenas de sexo, violência e escatologia. Provocador, Pasolini incomodava por colocar o dedo na ferida de uma sociedade hipócrita. Confira sua filmografia e conheça suas instigantes obras cinematográficas!


Além de cineasta, Pasolini era um poeta, escritor e intelectual. Observador atento da sociedade que o cercava, frequentemente provocava controvérsias por tratar de temas polêmicos e tabus em seus trabalhos. Inconformista e questionador, Pasolini fez de sua arte um instrumento de luta e transformação.

Teorema


Em Milão, a vida de uma rica família burguesa muda totalmente com a chegada de um misterioso visitante, que seduz a empregada, o filho, a mãe, a filha e finalmente o pai. Além disso, tem um contato intelectual com todos, convencendo-os da futilidade da existência. Após cumprir seu objetivo e partir, ninguém da família consegue continuar vivendo da mesma forma.

Accattone - Desajuste Social


Na miserável periferia de Roma dos anos 60, Vittorio, mais conhecido como Accattone (que significa "mendigo", em italiano), é um jovem cafetão que explora a prostituta Maddalena. Quando ela é presa, ele perde a sua fonte de renda e fica sem rumo até se apaixonar pela ingênua Stella, que tenta fazê-lo mudar de vida. Este é o primeiro filme de Pasolini.

O Evangelho Segundo São Mateus


A história de Jesus Cristo, do nascimento à ressurreição, a partir do texto de São Mateus. As parábolas, os primeiros discípulos, a revolta, a determinação, os milagres, a intolerância, a solidão e a impaciência. Censurado e muito criticado pela Igreja Católica quando foi lançado no Festival de Veneza de 1964, este filme agora é exaltado pelo Vaticano como a melhor obra já feita sobre a vida de Jesus Cristo no cinema.

Mamma Roma


Mamma Roma é uma prostituta da capital italiana que sonha em mudar de vida e de classe social para poder voltar a viver com Ettore, seu filho adolescente. Para isso, decide economizar dinheiro e se casar com Carmine, seu ex-gigôlo. Infelizmente ela encontrará muitas dificuldades para realizar seu sonho.

Gaviões e Passarinhos


O agricultor Totó e o seu filho Ninetto iniciam uma viagem em volta de Roma. Durante o caminho, conversam sobre a vida e a morte com um personagem insólito, um corvo, que lhes diz ser um intelectual marxista da velha guarda, sustentando a teoria de que a humanidade se divide em duas parcelas: a dos “passarinhos” e a dos “passarões”...

Édipo Rei


Baseado na tragédia clássica de Sófocles, Édipo, herdeiro do trono de Tebas, foi abandonado ao nascer em um deserto, por conta de uma previsão do Oráculo anunciando que o menino seria responsável pela morte do seu pai e se deitaria com a mãe. Édipo é encontrado por um casal de camponeses que o criam. Porém, durante sua juventude ele se encontra com o mesmo Oráculo que lhe conta seu destino infeliz. Sendo assim, ele foge de seus pais camponeses, acreditando serem seus verdadeiros pais, em direção à Tebas.

Medeia


Para retomar o reino que o tio roubou de seu pai, Jasão rouba o velocino de ouro e seduz a poderosa feiticeira Medeia (interpretada pela cantora lírica Maria Callas). Ela mata o próprio irmão para fugir com o amado. Anos mais tarde, no entanto, Medeia é abandonada por Jasão, que pretende se casar com a jovem e bela filha do Rei Creonte. Traída, a feiticeira planeja uma terrível vingança contra seu antigo amante. Versão pasoliniana da tragédia grega de Eurípedes.

Pocilga


A partir de duas histórias paralelas, uma no século XVI e outra na Alemanha pós-moderna, Pasolini faz um retrato metafórico nada alentador da degradação humana alastrada pela sociedades de consumo, as quais não prezam o sentido e a essência do ser humano, mas apenas sua capacidade de consumo. É uma reflexão sobre o lema da era capitalista: "consumo, logo existo".

Decameron


Adaptação da obra homônima de Giovanni Boccaccio, considerada um marco literário na ruptura com a moral medieval, substituindo os valores divinos pelos terrenos como responsáveis pela conduta humana. Repleta de humor satírico, é um grande painel da vida social e mundana na Itália medieval. Entre as nove histórias retratadas, uma freira capaz de realizar “milagres” sexuais, uma adúltera com um olfato certeiro para os negócios, jovens amantes pegos em flagrante, um servo que perde a cabeça pelo amor e um agricultor crédulo que tenta transformar sua mulher em uma égua. Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim de 1971, é o primeiro filme da "Trilogia da Vida", projeto de Pasolini baseado em grandes clássicos da literatura antiga, exaltando o sexo e o corpo humano como um meio de protestar contra o novo moralismo da época e resgatando o simples, o primitivo, o mítico e o sagrado.

Os Contos de Canterbury


Um grupo de peregrinos viaja rumo à Catedral de Canterbury, em uma longa caminhada que dura dias. Para superar as longas noites sem sono, os viajantes passam a relatar contos eróticos como forma de passar o tempo. Uma celebração bem humorada do sexo, a partir de imagens mágicas e rústicas, o filme é baseado nos contos eróticos do escritor medieval inglês Geoffrey Chaucer. Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim de 1972, é o segundo longa da "Trilogia da Vida".

As Mil e Uma Noites


O príncipe Mur El-Din inicia uma viagem em busca de sua amante, uma escrava chamada Zumurrud, que havia sido sequestrada por um ser de olhos azuis. Em sua busca, visita os mais remotos cantos do mundo, testemunhando ao longo da viagem histórias inesquecíveis de traições, cobiças e desejos. Baseado nos contos de "As Mil e Uma Noites" e filmado em quatro países (Irã, Nepal, Iêmen, Eritreia) ao longo de mais de dois anos, é o terceiro filme da "Trilogia da Vida".

Salò ou os 120 Dias de Sodoma


Em 1944, na República de Salò, situada no Norte da Itália e controlada pelos fascistas, quatro libertinos sequestram 16 jovens e os aprisionam numa mansão vigiada por guardas, submetendo-os a todo tipo de experiências e usando-os como fonte de prazer. Inspirado no romance do Marquês de Sade, este filme transpõe as cenas sádicas do autor e libertino francês para a Itália fascista. A obra, tida por muitos como uma das mais perturbadoras da história do cinema, pelas cenas de nudez, violência sexual e escatologia, é o último filme de Pasolini, assassinado dias antes da estreia.

Filme "Pasolini", com Willem Dafoe - Imagem: Divulgação

Os últimos momentos da vida do polêmico cineasta, aliás, serviram de enredo para "Pasolini", longa de Abel Ferrara, lançado em 2014, com Willem Dafoe no papel principal. Misturando realidade e imaginação, o filme reconstrói o último dia de vida do cineasta, como os momentos com sua mãe e seus amigos, e a fatídica noite, quando sai em seu Alfa Romeo à procura de aventuras na cidade eterna. Na manhã de 2 de novembro de 1975, seu corpo foi encontrado numa praia nos arredores da capital italiana, espancado e atropelado, horas depois de ter saído com um garoto de 17 anos.


Vítima de Homofobia? Perseguição política? Ambas? Por mexer no vespeiro e criticar as injustiças e hipocrisias da sociedade, Pasolini foi alvo do ódio de muita gente e sua vida teve um final triste e trágico... Mas sua obra sobreviveu e ainda continua transgressora e atual. Gostemos ou não de sua estética nua e crua, que em alguns filmes chega a nos embrulhar o estômago, Pasolini está no hall dos grandes diretores de cinema e merece ser conhecido e visto.

Por Tiago Elídio...

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