De Ney Matogrosso e Freddie Mercury a Johnny Hooker e Lady Gaga: confira os ícones LGBT no Rock in Rio

Desde a sua primeira edição, em 1985, já passaram pelo palco do Rock in Rio importantes artistas que são referências para o público LGBT, como Ney Matogrosso, Freddie Mercury, Elton John, Cazuza e Cássia Eller. Nesta edição de 2017, não será diferente, o show deve continuar colorido, com muito brilho e glamour, com Lady Gaga, Pet Shop Boys, Johnny Hooker, entre outros.


A primeira atração do Rock in Rio, em 1985, entrou no palco vestindo uma pequena tanga de pele de onça e uma pena de gavião enfeitando a cabeça. Era Ney Matogrosso, que chegou chegando. Mas, nesse dia, a plateia estava repleta de metaleiros que, diante de sua performance, jogaram ovos cozidos em sua direção e o vaiaram. Ney, no entanto, não se abateu. “Não estava acostumado com a galera de heavy metal. Mas fiz o que tinha que fazer: chutei de volta os ovos e toquei meu barco, fiz meu show. Na metade para frente, não tinha mais metaleiro enchendo o saco”, afirmou o cantor.


E uma das atrações mais aguardadas desta primeira edição foi a banda britânica Queen, que fez uma apresentação emocionante, principalmente durante a execução de “Love Of My Life”, cantada em coro pelas 250 mil pessoas presentes na Cidade do Rock.


Foi também marcante a entrevista que o vocalista Freddie Mercury deu à Glória Maria, que indelicadamente tentou tirá-lo do armário e recebeu umas boas, irônicas e engraçadas respostas. Apesar de tangenciar o assunto, era sabido que Freddie curtia rapazes. E devido ao seu enorme talento, seu físico sexy, seu descaramento juvenil e sua morte trágica e precoce em decorrência da AIDS, tornou-se um dos grandes ícones LGBT com uma imagem mítica.


Outra apresentação marcante desta edição foi a do Barão Vermelho. No mesmo dia do show ocorria em Brasília a eleição presidencial indireta que escolheu Tancredo Neves como novo presidente, dando um grande passo na redemocratização do país. Por conta disso, o palco e a plateia contavam com várias bandeiras brasileiras. Em clima de esperança, a banda fechou a apresentação com a música "Pro Dia Nascer Feliz", com o coro uníssono da plateia no refrão.


Cazuza, basicamente pelas mesmas razões que Freddie Mercury, também se tornou um ícone gay. No entanto, ao contrário do cantor inglês, que assumiu sua bissexualidade somente um dia antes de sua morte, em 1991, Cazuza era desde sempre abertamente bissexual.

Outra banda icônica e bem gay-friendly que agitou o primeiro Rock in Rio com sua música new wave superdançante foi The B-52s, formada pelos estilosos integrantes Kate Pierson, Cindy Wilson, Fred Schneider, Keith Strickland e Ricky Wilson, guitarrista do grupo, abertamente gay. Esta, aliás, foi sua última aparição pública com a banda. Ele faleceu no mesmo ano, aos 32 anos, vítima da AIDS. Os outros membros do The B-52s, à exceção de Cindy, também são homossexuais e foram saindo do armário posteriormente. Kate inclusive se casou com uma mulher em 2015. Ah, e o nome da banda se deve a uma gíria do sul dos Estados Unidos para um corte de cabelo exagerado, como as duas integrantes usavam.



E na segunda edição do Rock in Rio, em 1991, temos outro cantor britânico que demorou a se assumir, George Michael, que saiu do armário somente em 1998, quando foi preso por atentado ao puder em um banheiro público de Beverly Hills. No entanto, também já era um fato conhecido. Entre suas músicas de grande sucesso, o grande hit “Freedom! 90”, vista por muitos como um hino gay e que também foi tocada no festival. Durante o evento, aliás, o cantor conheceu um estilista brasileiro, com quem manteve um relacionamento até 1995, quando este faleceu.



Em 2001, na terceira edição do festival, temos vários ícones pop que são queridos pelo público LGBT. Entre eles, Britney Spears, que foi altamente criticada por seu playback e vaiada por mostrar a bandeira americana durante o show. Nesta edição, a boy banda NSYNC, com o queridinho Justin Timberlake, também se apresentou, agitando o público com seu show temático e suas coreografias. E não podemos deixar de citar Sandy e Júnior, que acompanharam a infância e adolescência de muitos LGBTs brasileiros.

Mas, além do pop, temos a grande musa do rock nacional, Cássia Eller, considerada um ícone lésbico. Durante sua apresentação para 100 mil pessoas, dois grandes momentos: quando cantou “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, e quando mostrou seus seios enquanto cantava “Come Together”, dos Beatles, com a Nação Zumbi. Esse foi um ano emblemático para a cantora. Cássia participou do Rock in Rio em janeiro, gravou o Acústico MTV em março, que foi um grande sucesso e teve grande repercussão, e faleceu em dezembro, em decorrência de uma overdose.



No mesmo dia do show de Cássia Eller no Rock in Rio, também se apresentou a banda R.E.M. O vocalista, Michael Stipe, ainda não havia assumido sua homossexualidade, o que o fez nesse mesmo ano, quando declarou que não queria ser identificado como um artista gay. Em 2008, aos 48 anos, deu novas declarações e afirmou que a situação que viveu nos anos 80 era supercomplicada e não achava que o fato de se assumir gay poderia ser importante para as outras pessoas, mas que agora achava positivo que figuras públicas tratassem do tema de forma aberta. “Há momentos em que me arrependo por não ter me manifestado mais cedo sobre minha sexualidade, pois isso impactaria pessoas de forma positiva”, declarou o vocalista em entrevista ao jornal O Globo.



10 anos depois, na quarta edição brasileira do Rock in Rio, um dos grandes ícones gays a se apresentar foi Elton John, que encantou o público com seus clássicos. Além dele, participaram diversos ícones do pop, muito adorados, em geral, pelo público LGBT: Maroon 5, Coldplay e as divas Shakira, Rihanna e Katy Perry. Esta, aliás, tem grandes músicas idolatradas pelos LGBTs, como “I Kissed a Girl” e “Firework”, cujo clipe mostra um beijo entre dois homens e a letra diz que as pessoas devem amar a si mesmas, pois são únicas e não devem ser intimidadas ou depreciadas. Simplesmente um hino, como dizem atualmente!



Em 2013, um dos grandes destaques foi o tributo “Cazuza – O poeta está vivo”, no primeiro dia do evento. Entre os artistas que prestarem homenagem ao grande poeta e cantor carioca, Ney Matogrosso, Rogério Flausino, Bebel Gilberto, Paulo Miklos e Maria Gadú.

Nesta edição, o pop voltou a brilhar muito com a diva Beyoncé. Além dela, participaram outros artistas muito queridos pelo público LGBT, como Ivete Sangalo, Justin Timberlake, Jessie J, o dj David Ghetta, a banda Florence and the Machine e Alicia Keys, cujo show contou com a participação de Maria Gadú, durante a música “Fallin’”. Também vale mencionar o show de outro importante nome da MPB e ícone lésbico, Zélia Duncan, que se apresentou no palco Sunset.



Em 2015, as queridinhas Katy Perry e Rihanna retornaram para novas apresentações, deixando todos os seus fãs felizes e enlouquecidos. Nesta edição retornaram também Elton John e a banda Queen, agora com Adam Lambert, gay assumido, como vocalista. Outro cantor abertamente homossexual a fazer parte desta edição foi o britânico Sam Smith. E a homenageada da vez foi Cássia Eller, com um show dedicado a ela no palco Sunset. Entre os artistas presentes, Nando Reis, Arnaldo Antunes, Filipe Catto, Lan Lan, Tacy de Campos, Zélia Duncan e Mart’nália. No fim da apresentação, estas quatro repetiram os gestos de Cássia e mostraram os seios.



E agora, na edição de 2017, o show mais esperado pelo público LGBT é, sem dúvida, o de Lady Gaga. Para além de suas músicas pop dançantes e suas performances e figurinos ousados, a cantora sempre foi uma grande apoiadora na luta pela visibilidade e pelos direitos dos LGBTs. “Born This Way” é um grande hino de aceitação e amor-próprio, com um videoclipe repleto de elementos que fazem referências à comunidade LGBT, como o triângulo rosa, que era usado pelos nazistas para identificar os homossexuais. Por tudo isso, Lady Gaga é um dos grandes ícones dessa comunidade na atualidade e muito querida por seus fãs, os “little monsters”, como os chama carinhosamente.



Na mesma noite do show da diva Gaga, dia 15, temos a apresentação de Ivete Sangalo, diva querida pelos LGBT, e dos Pet Shop Boys, também grandes referências gays. A dupla formada por Neil Tennant e Chris Lowe no início dos anos 80 é uma das precursoras da música pop eletrônica e em muitas de suas letras a cultura gay é abordada.

E no dia 22, no palco Sunset, se apresentam Ney Matogrosso e Nação Zumbi, com um setlist inteiro de canções do grupo Secos & Molhados, que revolucionou a cultura gay dentro da música brasileira, com suas apresentações ousadas e seus figurinos e maquiagens extravagantes.

Também merece destaque o show de Johnny Hooker, Liniker e Almério, no dia 17, no palco Sunset. O trio representa a nova onda de gênero fluido dos tempos atuais e traz novos ares para a MPB. Juntos para um encontro inédito que transcende as vozes e reflete apelos e quebras de paradigmas em um espetáculo sem amarras, os três vão unir suas sonoridades distintas em uma libertária mistura de ritmos regionais, glam rock, soul e black music.



Entre a primeira edição do Rock in Rio e esta última, podemos notar uma grande diferença em relação à visibilidade e à aceitação. Antes, os artistas desconversavam sobre suas orientações sexuais e ainda tinham receios de assumir sua sexualidade e/ou seu gênero. Hoje em dia, vemos artistas abertamente gays, lésbicas, trans, queers, sem medo de se mostrarem como realmente são e lutando por seus direitos. Sem dúvida, grandes avanços. Que cada vez mais os LGBTs possam ser quem realmente são, sem medo de serem felizes! Aplausos!

Por Tiago Elídio

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