Leonilson ganha sua primeira exposição individual nos Estados Unidos

Quem passar por Nova York até o dia 3 de fevereiro de 2018 pode visitar a exposição José Leonilson: Empty Man na Americas Society's Art Gallery. Trata-se da primeira mostra individual em solo estadunidense deste grande artista contemporâneo brasileiro, falecido em 1993, com apenas 36 anos, em decorrência da AIDS. O trabalho do artista oferece um conjunto de símbolos, poesia e estampas, traçando, em termos muito pessoais, a odisseia de uma doença que provocou simultaneamente medo, confusão e pânico.
"Jogos Perigosos" (1990), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

O universo mítico de José Leonilson constrói uma narrativa existencial em torno de sua própria sina, e essa intimidade atemporal ressoa de forma ainda mais forte no contexto de uma doença frequentemente caracterizada por perdas. “Em sua obra, Leonilson abordou a questão da arte como um exercício de introspecção. É fascinante. Seus símbolos, sejam eles esboços, pinturas, ilustrações ou bordados, evoluem para um vocabulário que pode articular amor, isolamento, gênero, sexualidade e, em última instância, uma reconciliação com a ideia da morte”, descreve a curadora independente Cecilia Brunson. “Talvez por causa dessa jornada pessoal — o próprio DNA no centro de seu ‘diário’ — ele resistiu à ideia de ser agrupado com a chamada Geração dos 80 no Brasil, apesar de ter sido estreitamente associado ao sucesso meteórico desse grupo”.

"O Pescador de Palavras" (1986), Leonilson - Imagem: Edouard Fraipont/Itaú Cultural

A exposição abre com as obras mais maduras de Leonilson, produzidas nos últimos três anos de sua vida, e apresenta a trajetória do seu mundo interior retrospectivamente. Como escreveu o poeta T.S. Eliot: “No meu início está o meu fim”, e “no meu fim está o meu começo”. Ao seguir por este caminho, o espectador pode recapitular o princípio de Leonilson com a ajuda do léxico maduro que ele desenvolveu ao longo de sua vida. “A subjetividade crua e auto-exposta de Leonilson construiu um mito artístico duradouro que transcendeu uma mera crônica da epidemia de AIDS”, diz a Diretora de Artes Visuais da Americas Society e sua principal curadora Gabriela Rangel. “Sua obra expandiu o idioma da pintura, tornando-o descentralizado, sem gênero, e convidando o espectador a compartilhar sua intimidade transgressiva”.

"Empty Man" (1991), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

Durante sua vida, a obra de Leonilson foi frequentemente exibida no exterior e ele viajou várias vezes para Amsterdã, Madri, Nova York e Paris. Seu apetite sagaz pela cultura global é refletido na diversidade de suas fontes de inspiração, que vão de Arthur Bispo de Rosario à estética de Shaker, bem como em seu conhecimento e domínio de diversas línguas. “Uma das primeiras pinturas na nossa mostra é Pescador de Palavras de Leonilson, que representa a personalidade do próprio artista como um conhecedor das línguas. Como um bom colecionador, Leonilson reuniu palavras, letras de músicas e aforismos, muitas vezes combinando idiomas, rompendo regras de gramática e experimentando sons”, diz Susanna Temkin, curadora assistente da American Society. “Hoje, esses trocadilhos e frases altamente eficazes continuam permitindo que sua voz seja ouvida através de suas telas e bordados, revelando o humor irônico e o páthos estoico de seus últimos anos”.

"Cheio, Vazio" (1993), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

A mostra José Leonilson: Empty Man apresenta cerca de 50 obras, incluindo desenhos, pinturas e bordados, bem como documentos emprestados de instituições públicas e coleções privadas no Brasil e Estados Unidos. Com foco na produção do artista que data de meados da década de 80 até a sua morte em 1993, a exposição destaca sua linguagem idiossincrática totalmente desenvolvida, na qual ele combinou um léxico iconográfico singular com texto íntimo. A mostra é organizada pela curadora independente Cecilia Brunson; Gabriela Rangel, diretora de Artes Visuais da Americas Society e sua principal curadora; e a curadora assistente Susanna V. Temkin, com a colaboração do Projeto Leonilson, de São Paulo.

A Americas Society's Art Gallery fica no seguinte endereço: 680 Park Avenue, esquina com 68th Street, Nova York. A exposição está aberta de quarta a sábado, do meio-dia às 18h e a entrada é gratuita! Também estão programadas outras atividades ao longo dos próximos meses, como a exibição do filme A paixão de JL. Para mais informações é só acessar aqui o site oficial.

Vale a pena conferir! ;)

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