Inhotim: paraíso para quem curte natureza e arte interativa

Localizado a cerca de 60 km de Belo Horizonte e sede de um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do mundo, Inhotim é um paraíso para quem gosta de natureza e arte interativa. Aqui a máxima da Narcisa, "don't touch, it's art", só é válida, em geral, para as obras expostas dentro das galerias, pois as instalações ao ar livre são muito convidativas para interação.

"Rodoviária de Brumadinho" (2005), John Ahearn e Rigoberto Torres - Foto: Tiago Elídio

Por se tratar de um espaço de exposição que fica em meio à natureza, Inhotim oferece uma experiência totalmente distinta das visitas aos museus urbanos. Ao se deslocarem por esse ambiente bucólico, os visitantes se perdem entre lagos, trilhas, montanhas, vales, e se deparam com esculturas, instalações e galerias que foram pensadas para dialogar com o local e possibilitar uma vivência ativa do espaço.

"De Lama Lâmina" (2004-2009), Matthew Barney - Foto: Tiago Elídio

E espalhadas por essas paisagens, obras de importantes nomes da arte contemporânea, como Hélio Oiticica, Tunga, Miguel Rio Branco, Cildo Meireles, Adriana Varejão, Olafur Eliasson, Chris Burden, Yayoi Kusama, Janet Cardiff e muitos outros.

Lago principal e a obra de Hélio Oiticica ao fundo - Foto: Tiago Elídio

Em um lugar como Inhotim, seria impossível não encontrar nenhuma obra de Hélio Oiticica, considerado um dos maiores artistas brasileiros e um dos pioneiros em transformar os espectadores em participantes ativos do processo artístico. Oiticica, aliás, era homossexual, embora não se mencione muito isso. Perto do lago principal, está "Magic Square # 5 (1977)", que faz parte de um grupo de seis trabalhos pensados em torno da praça e do quadrado ("square", em inglês, tem esses dois significados). Estes espaços se oferecem como grandes áreas de permanência e de convívio, permitindo uma vivência com a forma, a cor e os materiais. Além disso, fazem parte dos trabalhos denominados de "Penetráveis", pois os espectadores entram neles. Trata-se de uma ideia de renovação do espaço arquitetônico, aproximando-o ao jardim, à praça, ao labirinto, ao parque de diversão e ao barracão.

"Invenção da cor, Penetrável Magic Square # 5, De Luxe" (1977), Hélio Oiticica - Foto: Tiago Elídio

Além disso, há a Galeria Cosmococa, que reúne cinco obras da série homônima, que Hélio Oiticica criou com Neville d'Almeida em 1973, época em que viveu em Nova York. São instalações isoladas do mundo externo, os "blocos-experimentos", que incluem recursos multimídia projetados nas paredes, trilha sonora e alguns elementos interativos, como redes, balões e uma piscina, que convidam os espectadores a participarem e terem uma experiência suprassensível. Segundo Oiticica, o suprassensorial levaria o indivíduo “à descoberta do seu centro criativo interior, da sua espontaneidade expressiva adormecida, condicionada ao cotidiano". Entre as imagens projetadas, fotos de desenhos feitos com cocaína sobre livros e capas de discos de Jimi Hendrix, John Cage, Marilyn Monroe, Yoko Ono, entre outros.


"Cosmococa 5 Hendrix-war" (1973), Hélio Oiticica e Neville D'Almeida - Foto: Site oficial Inhotim

O uso da cocaína, que Oiticica discute longa e teoricamente em seus textos, aparece tanto como símbolo de resistência ao imperialismo americano, quanto referência à contracultura. Ele é o autor da famosa frase "Seja marginal, seja herói", que escreveu sobre a foto de um morador da Mangueira morto em 1968, durante a ditadura militar. Dentro de uma lógica de transgressão de valores burgueses, tinha certo fascínio pelos tipos marginais e malandros, identificando-se com o que chamou de “marginália”, ou “cultura marginal”.

"Maciel" (1979), Miguel Rio Branco - Foto: Site oficial Inhotim

Um espaço que mexe bastante com os espectadores e leva à reflexão sobre desigualdades, exclusão social e grupos marginalizados é a Galeria Miguel Rio Branco, que possui importantes trabalhos deste artista plástico e fotógrafo. Um deles é a série de fotografias feita no bairro do Maciel, no Pelourinho, em Salvador. Antigo centro social da capital baiana, a região atravessou um severo processo de decadência nos anos 1970, levando à ocupação informal de seus prédios e à degradação das construções antigas. Miguel Rio Branco descobriu o Pelourinho em 1979, quando interessou-se por retratar a prostituição no local e seus personagens, suas histórias de violência. O resultado é o encontro entre beleza, erotismo, crueza e intimidade.

Galeria Adriana Varejão - Foto: Luiz Sanches

Outro pavilhão emblemático, marco da profunda relação entre arte, arquitetura e paisagismo de Inhotim, é a Galeria Adriana Varejão, que abriga seis obras da artista. Um deles é "Passarinhos - de Inhotim a Demini", pintura sobre azulejo instalada no terraço do pavilhão. Trata-se de uma ampliação da instalação "Pássaros da Amazônia" (2003), criada pela artista depois de passar um tempo na aldeia yanomani Demini, na Amazônia, e inspirada na forte ligação dos índios com os pássaros. Nesta instalação, foram acrescentadas representações de espécies típicas desta localidade mineira. Você pode, portanto, sentar no banco de azulejos e contemplar os passarinhos da região com os de Varejão.


"Passarinhos - de Inhotim a Demini" [pintura à mão por Beatriz Sauer], Adriana Varejão (2003-2008) - Foto: Tiago Elídio

Quem também está presente nos jardins de Inhotim é a artista japonesa Yayoi Kusama, com sua instalação "Narcissus Garden Inhotim" (2009). Considerada uma das mais importantes artistas a ter emergido na Ásia no período do pós-guerra, sua produção estabelece relação com movimentos como o minimalismo, a arte pop e o feminismo. Kusama viveu nos EUA de 1957 a 1973 e, durante esse período, participou de diversas exposições e performances em Nova York, em uma espécie de celebração do amor livre, e sempre foi muito engajada com a contracultura e o mundo underground e uma grande simpatizante na luta dos direitos LGBT. Algo característico de suas obras é o uso compulsivo de motivos repetitivos circulares, as famosas "bolinhas", algo que remete às alucinações que a artista vivencia desde a infância e que transpõe para seus mais diversos trabalhos. No de Inhotim, são 500 esferas de aço inoxidável que flutuam sobre o espelho d'água, criando formas que se diluem e se condensam de acordo com o vento e outros fatores externos e refletindo a paisagem de céu, água e vegetação, além do próprio espectador, criando, nas palavras da artista, "um tapete cinético".

"Narcissus Garden Inhotim" (2009), Yayoi Kusama - Foto: Tiago Elídio

Além das galerias e obras citadas acima, ao percorrer Inhotim, você vai se deparar com muitos outros trabalhos artísticos interessantes. Abaixo, algumas fotos de outras obras que merecem destaque:

"Viewing Machine" (2001), Olafur Eliasson - Foto: Tiago Elídio

"Troca-Troca" (2002), Jarbas Lopes - Foto: Tiago Elídio

"A Origem da Obra de Arte" (2002), Marilá Dardot - Foto: Tiago Elídio

"Beam Drop Inhotim" (2008), Chris Burden - Foto: Tiago Elídio

"True Rouge" (1997), Cildo Meireles - Foto: Tiago Elídio

"Sem Título" (2000, 2002, 2005), Edgard de Souza - Foto: Tiago Elídio

"Piscina" (2009), Jorge Macchi - Foto: Luiz Sanches

Como você pode ver, é possível até se refrescar na "Piscina", obra do artista Jorge Macchi. Por tudo isso, sem dúvida nenhuma, Inhotim merece a visita. E um dia é pouco para explorar toda a sua extensa área e conhecer direito as obras. Por isso, é aconselhável no mínimo dois dias para fazer as coisas com calma e tranquilidade e não precisar gastar com os carrinhos! Para mais informações, incluindo como chegar, horários, preços, acervo, acesse aqui o site oficial. E divirta-se! ;)

Por Tiago Elídio

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