Toronto é eleita a cidade mais amigável ao viajante LGBT no Canadá e a terceira do mundo

Por Aline Siqueira

Para celebrar o mês do Orgulho LGBT e comemorar o 48° aniversário dos confrontos de Stonewall Inn, a empresa Nestpick (plataforma online para aluguel de apartamentos mobiliados) realizou uma pesquisa para listar as 100 cidades do mundo mais amigáveis aos viajantes LGBT. Quatro cidades canadenses entraram no ranking e a primeira delas é Toronto, que ficou em 3° lugar na lista geral, atrás apenas de Madri e Amsterdã.
A pesquisa foi feita com as comunidades locais e levou em consideração, além das leis de cada país voltadas para a comunidade LGBT, fatores como bons locais de paquera para gays, vida noturna alternativa, cidadãos com mente aberta e baixo índice de crimes de ódio. As outras cidades do Canadá que aparecem na lista são Montreal, em 12°, Vancouver, em 17°, e Calgary, em 50° lugar. Veja a lista completa aqui no site da Nestpick.

Union Station e CN Tower em Toronto - Foto: Aline Siqueira

A história da conquista dessa posição no ranking começou no dia 5 de fevereiro de 1981, quando policiais de Toronto realizaram uma operação denominada Operation Soap, que consistiu na invasão de quatro saunas gays da cidade, prendendo mais de 300 homens. A ação despertou protestos em massa denunciando o incidente nos dias e meses que se sucederam, e o episódio foi considerado o equivalente canadense aos confrontos de Stonewall Inn, ocorridos em Nova Iorque em 1969. As manifestações realizadas no ano de 1981, em resposta às batidas policiais, são consideradas como marco da fundação da Pride Week Toronto, semana dedicada à celebração do Orgulho Gay, uma das maiores comemorações LGBT do mundo.

Em junho de 2016, o então chefe da polícia de Toronto, Mark Saunders, finalmente desculpou-se historicamente pelos ataques às saunas gays. Em seu pronunciamento, ele afirmou que o aniversário de 35 anos dos ataques era o momento para a polícia de Toronto expressar seu arrependimento por tais ações e reconhecer o aprendizado dos riscos existentes ao tratar qualquer parte das comunidades da cidade como não sendo parte de toda a sociedade.

Nathan Phillips Square e Prefeitura de Toronto - Foto: Aline Siqueira

2016 também foi o ano em que a Pride Toronto, organização sem fins lucrativos responsável pela realização da parada e das marchas LGBT, instaurou o Pride Month em substituição à Pride Week. Antes, o festival anual durava de sete a dez dias centrado na última semana do mês de junho, realizando a Parada no último final de semana de junho ou no primeiro de julho. Desde 2016, o Orgulho é celebrado durante todo o mês de junho, com uma programação de eventos e discussões antecedendo o final de semana do festival, quando são realizadas a Marcha Trans, a Marcha Dyke e a Parada LGBT. Nesse mesmo ano, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, fez história quando pela primeira vez um primeiro-ministro em exercício desfilou em uma Parada LGBT canadense.

Bandeiras do arco-íris, do Canadá e da província de Ontário - Foto: Aline Siqueira

Em 2017, o segundo Pride Month foi realizado de 1 a 25 de junho. No dia 31 de maio foi realizada uma cerimônia na Nathan Phillips Square que hasteou a bandeira do arco-íris e a bandeira trans em frente à Prefeitura de Toronto. Além de festas e eventos em bares da cidade, o Pride Month ofereceu programação em artes visuais, música, teatro e dança. Durante a Parada LGBT e as marchas do final de semana, a Church Street Public School recebeu a Family Pride, um espaço destinado às famílias, com áreas para descanso, alimentação, shows interativos e atividades para crianças e adultos.

Bandeiras do arco-íris e trans hasteadas na Nathan Phillips Square, em frente à Prefeitura de Toronto - Foto: Aline Siqueira

O final de semana do festival começou com a Marcha Trans, na noite do dia 23, sexta-feira. Na página de divulgação da marcha, a Pride Toronto afirma que o termo “trans” refere-se a todas as identidades existentes no espectro das identidades de gênero, incluindo, mas não limitado, aquelas pessoas que se identificam como transgênero, transexual e travestis. A marcha, que ocorre desde 2009, contou esse ano com milhares de participantes e apoiadores.

Na tarde do dia 24, sábado, aconteceu a Marcha Dyke com a temática "Resista". A Pride Toronto ressalta que a marcha não é um desfile, mas sim um espaço de demonstração política para crítica em massa, onde as mulheres e pessoas trans da comunidade lésbica comemoram seu poder, força e diversidade, além de celebrar suas realizações, honrar suas origens e ampliar as vozes silenciadas e esquecidas.

Queen Street West - Foto: Aline Siqueira

No domingo dia 25, para encerrar o mês do Orgulho, foi realizada a 37° Parada LGBT de Toronto, com mais de 150 organizações participantes, uma das maiores da América do Norte. O primeiro-ministro Justin Trudeau desfilou novamente, agora ao lado de sua família, do chefe da Assembleia das Primeiras Nações, Perry Bellegarde, e de Kathleen Wynne, primeira-ministra da província de Ontário, primeira mulher e primeira pessoa abertamente gay no cargo.

Dessa vez, Perry Bellegarde mereceu destaque, tornando-se o primeiro chefe nacional representante de povos indígenas a participar de uma Parada LGBT no Canadá. Em entrevista a CBC News ele relembra que historicamente, antes da ocupação europeia no território canadense, os "indivíduos dois-espíritos" – termo que se refere à pessoa indígena que possui energia e desempenha papéis de ambos os sexos: masculino e feminino – eram altamente respeitados e protegidos em suas tribos.

Placa da Wood Street localizada no The Village - Foto: Aline Siqueira

Diversas das atrações do festival da Pride acontecem na região localizada no entorno dos cruzamentos entre as ruas Church e Wellesley. O perímetro é conhecido como o bairro gay de Toronto, The Village, a maior comunidade LGBT do Canadá. A região é repleta de cafés, restaurantes, lojas, teatros e uma grande variedade de bares e boates dedicados ao público LGBT.

No bairro está localizado o The 519 Church Street Community Centre, um centro comunitário da prefeitura de Toronto, que funciona há quase 40 anos como local de encontro de grupos políticos e sociais, servindo não somente à comunidade LGBT, mas também à comunidade local. Durante o Pride Month desse ano, o The 519, como é popularmente conhecido, recebeu quatro eventos previstos na programação oficial da Pride Toronto.

Faixa de pedestres na Church Street - Foto: Aline Siqueira

The Village é também casa do AIDS Memorial, projeto do arquiteto Patrick Fahn construído em 1992 e localizado no Barbara Hall Park. O monumento homenageia os membros da comunidade que foram vitimados em decorrência da AIDS, com seus nomes gravados em placas de bronze, listados pelo ano de sua morte.

Há 33 anos, é realizada anualmente uma vigília à luz de velas durante a semana do festival da Pride, com a proposta de honrar as vidas perdidas para a doença e celebrar aqueles que vivem com o vírus. A vigília desse ano, com o tema “No espírito de bem-estar e cura”, aconteceu no dia 20 de junho, no Barbara Hall Park, com a apresentação de artistas que refletem a diversidade das pessoas e das comunidades afetadas pela AIDS.


AIDS Memorial no Barbara Hall Park - Foto: Aline Siqueira

Contudo, você rapidamente irá perceber que a cultura LGBT não está restrita ao The Village. Muitos defendem a ideia de que um único bairro gay é antiquada e inverossímil, pois estabelecimentos comandados por gays e receptivos ao público LGBT estão espalhados por toda a cidade. Pelo menos há uma década, muito da vida jovem LGBT em Toronto floresceu fora do bairro gay, especialmente na região conhecida como West Queen West, ou como foi carinhosamente apelidada: Queer Street West. Lá podemos encontrar uma grande concentração de galerias de arte, restaurantes, cafés, lojas e casas noturnas. Nada voltado exclusivamente para o público LGBT, mas sim para frequentadores mistos, alternativos e de mente aberta. Queer West tem uma atmosfera mais jovem, mais hipster e mais moderninha do que na região de Church and Wellesley.

West Queen West - Foto: Aline Siqueira

Mas não é só isso, há muito mais para explorar. Em uma cidade com mais de 200 grupos culturais diferentes e mais de 100 idiomas falados, não é de se espantar que a diversidade seja um dos seus pontos mais fortes. A cultura queer está em todos os lugares na cidade de Toronto!

Comentários

Newsletter

Postagens mais visitadas

Facebook