Objetos pessoais do artista Leonilson são expostos em São Paulo

Para comemorar o lançamento do Catálogo Raisonée de Leonilson, publicação que reúne toda sua obra, a Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, apresenta até 24 de setembro uma pequena exposição com objetos pessoais do artista.

Objetos pessoais de Leonilson - Imagem: Divulgação

Nascido em 1957 em Fortaleza e morto em 1993 em São Paulo, com apenas 36 anos, Leonilson é um dos grandes nomes da arte brasileira das últimas décadas. Sua extensa obra pode ser considerada como uma escrita de si, por seu teor altamente autobiográfico. 


Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

Entre os objetos presentes na exposição, estão carrinhos, que aparecem com frequência em seus trabalhos. Além de carros, outros meios de transporte, como barco e avião, que ressaltam seu espírito viajante. E inquieto, inconformado, deslocado... Seus títulos quase sempre evidenciam essas suas angústias pessoais.

"Leo não consegue mudar o mundo" (1989), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

“Leo não consegue mudar o mundo”. Nesta pintura de 1989, além dessa frase, vemos também um coração e as palavras “Abismo”, “Luzes”, “Solitário” e “Inconformado”. Podemos fazer a leitura, portanto, de um ser em conflito, angustiado, inconformado e que não consegue mudar o mundo. Talvez nem mesmo seu mundo interior. Os títulos de suas obras refletem, portanto essas questões internas.

"Jogos Perigosos" (1990), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

Em uma produção autobiográfica como a sua, a questão da AIDS não poderia ficar de fora. Antes mesmo do artista se descobrir soropositivo, ele já manifestava a angústia gerada pela doença, que fazia inúmeras vítimas fatais, majoritariamente homossexuais. Na pintura “Jogos Perigosos”, de 1990, um ano antes de seu diagnóstico, vemos dois homens separados por uma estrada, mas unidos por algo similar a uma ponte. Abaixo, o texto: “Esses jogos perigosos não são guerra. Nem estão no mar ou no espaço, mas por detrás de óculos e um par de jeans”. Ou seja, relacionar-se com outro rapaz significava arriscar-se a contrair a doença.

"O Perigoso" (1992), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

Em 1992, um ano após ser diagnosticado com o vírus, Leonilson trata com ironia sua condição. Na obra “O Perigoso”, uma gota de seu próprio sangue com as palavras que dão título ao trabalho. Também de 1992, outra obra muito emblemática de sua produção é “El Puerto”, um bordado sobre tecido de algodão na moldura de um espelho de rosto. Entre as palavras, “LEO”, “35”, “60”, “179” e “EL PUERTO”, ou seja, seu nome, idade, peso e altura.

"El Puerto" (1992), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

O uso de costuras e bordados são também muito recorrentes em suas obras, pois era filho de um comerciante de tecidos e tinha o hábito de ver sua mãe bordar. Além disso, eram materiais mais leves e fáceis de usar quando estava internado. Em 1993, por exemplo, confeccionou a obra “Cheio, Vazio”. Quatro pedaços de tecidos de tamanhos distintos que foram unidos. Em dois deles, a palavra “Cheio”, e nos outros dois, “Vazio”. Também podemos fazer uma leitura de que era a forma como ele se sentia, já no estágio final de sua vida, tendo que lidar com a doença.

"Cheio, Vazio" (1993), Leonilson - Imagem: Acervo Projeto Leonilson

Leonilson cria, dessa forma, diversos retratos de si mesmo. Em cada uma de suas obras nos deparamos com uma nova e complexa perspectiva do artista. Uma verdadeira escrita de si ao longo de sua jornada. E todo esse trabalho autobiográfico pode agora ser conferido no Catálogo Raisonné. São três volumes com 3.400 registros em suas 1.100 páginas. Para acompanhar mais do Projeto Leonilson, é só acessar aqui a página oficial no Facebook.

Catálogo Raisonée na exposição da Biblioteca Mário de Andrade - Imagem: Divulgação

A exposição "Leonilson: Arquivo Pessoal" fica em cartaz em São Paulo até dia 24 de setembro, na Sala do Pátio da Biblioteca Mário de Andrade, entre 8h e 19h, todos os dias. A visitação é grátis. A Biblioteca Mário de Andrade, aliás, oferece uma vasta programação cultural e gratuita: encontros com escritores, pesquisadores, artistas, lançamentos de livros, leituras dramáticas, intervenções artísticas, oficinas, saraus, palestras, apresentações musicais, entre outros. Para consultar a programação, é só acessar aqui o site oficial.

Biblioteca Mário de Andrade - Imagem: Facebook oficial

Comentários

Newsletter

Postagens mais visitadas

Facebook