Viagem cinematográfica: USA em AHS - Asylum

Por Luiz Sanches

Embora na segunda temporada de American Horror Story o tempo tenha retrocedido em quase 50 anos, houve um acentuado avanço na temática da estreia, “Murder House”. As neuroses que impediam os personagens da primeira temporada de viverem satisfatoriamente foram levadas ao paroxismo da loucura.

Imagem: Cenas de American Horror Story

"Asylum" mostra uma sala de convivência onde uma música alegre ecoa da vitrola ininterruptamente e anuncia uma morte viva, uma interrupção do fluxo vital, único, raro e sem reprises.

Para os desumanizados moradores da Instituição Mental Briarcliff, nada restou além da letargia e, assim, eles podem apenas brincar na gangorra eros-thanatos, ora se ocupando de viver e ora se ocupando de morrer, num promíscuo, mas complementar desejo de morte e vida impregnado de sexo, recordações e medos.

Apesar dos crucifixos e imagens religiosas, é um lugar sem Deus, onde o próprio demônio, incorporado na mais virtuosa freira, disputa o poder com uma rígida e recalcada fanática religiosa, um cientista nazista amoral, um ambicioso e manipulador eclesiástico e um infantilizado psiquiatra psicopata.

Imagem: Cenas de American Horror Story

Nesta engrenagem que não para, quem está no poder cairá e logo vem gente atrás para ocupar o lugar vago, fadado a vagar novamente, num ambiente de constante estratagema, desconfiança e paranoia que só pode ser resolvida pela morte.

Entre os pacientes de Briarcliff, pessoas marginalizadas da sociedade de Massachusetts, como Pepper, uma circense com microcefalia acusada injustamente de assassinato, Shelley, uma mulher sexualmente ativa, Kit, um solidário e visionário frentista que enfrenta preconceitos por se envolver em relações inter-raciais e poliamorosas e alvo de repetidos contatos extraterrestres e até abdução, e Lana (Banana), uma talentosa e subestimada jornalista lésbica num caso secreto com uma professora primária dentro de um círculo fechado de amizades lésbicas que se apoiam e se relacionam umas com as outras.

Imagem: Cenas de American Horror Story

À disposição da insana direção do hospício, eles sofrem toda sorte de eventos, sendo açoitados, mutilados, usados como cobaias em experimentos científicos, lobotomizados, eletrocutados, submetidos à apomorfina para terapia de aversão e cura homossexual.

Assim, para todos, vale o conselho da irmã Jude: “se você olha para a face do mal, o mal olhará de volta para você”, inclusive para ela mesma, que passa de administradora a paciente de Briarcliff para provar o seu desejo de viver, renunciando inúmeras vezes ao beijo do Anjo da Morte para finalmente aprender com os evoluídos amigos extraterrestres de Kit que o futuro chegaria independente da sua vontade, só restava abraçá-lo e entender que não valia viver isolada e com medo, agarrando-se a uma vida doentia de segredos. Ela se mostra íntegra quando próxima do fim, com tempo suficiente para a reflexão e apreço pelo retrospecto da sua vida e pela vida que viria depois dela, num alto grau de satisfação.

Imagem: Cenas de American Horror Story

Atualmente, Massachusetts parece ter se aproximado desta sociedade superior do Espaço. Foi o primeiro estado americano a reconhecer legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, fixou diretrizes e leis para que as escolas garantam proteção antibullying de alunos LGBT, proibiu a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero e regulamentou ações para que estas pessoas possam viver em sociedade sem constrangimentos. O estado é conhecido como o melhor dos EUA para LGBTs viverem, trabalharem, aprenderem e amarem.

Cidades como Provincetown, Northampton e Amherst formam um interior de estado que contraria tudo o que pensamos sobre o que pequenas cidades podem oferecer às pessoas LGBTQI. Para além do lazer, cidadania.

Enquanto isto, cidades como Cambrigde, Worcester e Boston, a capital do estado, esforçam-se tanto em proporcionar condições legais e sociais igualitárias que somaram o máximo de pontos numa pesquisa feita pela Human Rights Campaign, maior organização de direitos civis LGBT dos Estados Unidos.

Imagem: Cenas de American Horror Story

Confira também o post sobre a primeira temporada:
Viagem cinematográfica: USA em AHS - Murder House

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